
Um Fenômeno Chamado Minha Mãe
(Kau Mascarenhas)
Vou lhe apresentar minha mãe: Marina. Mas pode chamá-la de Mari, seu apelido para os que a amam, ou seja, todos os que a conhecem.
Mari pode ser vista como um fenômeno ou mesmo uma extraterrestre, pois a ela não se aplicam os pensamentos que costumeiramente temos acerca das mães terrenas. Mas, sobretudo agora que é portadora de necessidades especiais, ela se mostra uma grande professora de vida para nós que estamos aqui na terra.
Muita gente confunde a idéia de ser mãe com a da mítica Amélia, eternizada pela canção de Ataulpho Alves e Mário Lago, tida como “mulher de verdade”. Mãe, portanto, seria aquela que pensa apenas no outro, na família, e esquece de construir sonhos pessoais ou até mesmo de cuidar de si.
Mari, minha mãe, não é assim. Nunca foi.
Sabe aquela outra canção que desenha a figura da mãe numa cozinha com o avental todo sujo de ovo, e coisa e tal? Essa imagem também não tem nada a ver com ela.
Que bom perceber que minha mãe não é desse jeito.
Vale ressaltar que admiro todas as mães, inclusive aquelas que são tidas como “normais”; se elas estão felizes e aqueles que as cercam também, que problema há nisso? Há mulheres que sonham com esse papel e o desempenham contentes, fielmente, como as canções antigas preconizam.
O ponto é que, para mim, foi muito importante ter a mãe que eu tenho. Do jeitinho dela.

Desde que me entendo por gente eu a via sair pela manhã para a sua sagrada sessão de ginástica na academia. Passeou por todas as modalidades possíveis de atividades como aeróbica, rítmica, jazz, sapateado, e nos últimos anos fazia localizada e musculação com maior frequência. Foram 30 anos de atividade física diária que mantinha seu corpo pelo menos dez anos mais jovem do que dizia sua carteira de identidade.

Sua beleza me fez, por várias vezes, ficar aborrecido pois, quando garoto, tive que ouvir dos meus amigos algumas gracinhas como “a mãe do Kau é gostosa”!
Se eu fosse do tipo brigão, pode crer, estaria cheio de cicatrizes. Mas nunca nessa vida dei um murrinho sequer e, magrelo como eu era, provavelmente não seria muito inteligente sair no braço por causa disso. Seria trucidado. Por outro lado, no fundo, aqueles comentários eram uma espécie de elogio.
E por falar em infância, certa feita, eu devia estar com dez anos, lembro que andava por uma rua perto de casa quando uma menina desconhecida acompanhada de amigos apontou o dedo em minha direção e gritou: “Um esqueleto ambulante!”. Depois, todos olharam pra mim e explodiram na risada. Nossa! Aquilo doeu. Nunca havia me dado conta de como meu corpo era franzino. A vergonha me fez corar e correr dali.
Mais tarde chorei contando o episódio a minha mãe. Ela colocou minha cabeça em seu colo e me disse que era normal ser magrinho pra minha idade, e que eu era lindo. Falou também que um dia eu teria um corpo diferente, que eu seria bem forte e ninguém falaria nada disso pra mim outra vez.
Não me importava saber se as profecias dela se cumpririam. O que importava era aquele acolhimento, aquela mão acariciando meus cabelos e a doçura de suas palavras.
Quando se tratava de imagem pessoal ela foi sempre bastante cuidadosa. Nada a ver com a Amélia da canção.
Por que o fato de ser mãe levaria obrigatoriamente uma mulher a ser desleixada, desarrumada e descuidada com a aparência física? Salvo exceções relacionadas às prioridades que a vida apresenta, todos podemos nos cuidar e dedicar algum tempo ao bem-estar, à saúde e à estética.
Ela sempre foi muito ativa, cheia de vigor, de ânimo. Por isso, mesmo quando meus sobrinhos Bruno e Gabriel nasceram e ela se tornou avó, a imagem da senhora numa poltrona com livro no colo, contando histórias para crianças deitadas em almofadas ao seu redor nunca combinaria com ela.
Ela dizia: “- Darei muito trabalho a D. Velhice quando ela quiser chegar. Minha cabeça é de menina e meu corpo será assim também, pelo tempo máximo que eu conseguir!”

Há, igualmente, quem pense que todas as mães adoram cozinhar para os filhos e o marido. Quebremos mais uma generalização: a minha resmungava toda vez que ficava sem empregada e amaldiçoava o trabalho caseiro dizendo que era uma forma de escravidão.
“- E depois que deixei a cozinha toda arrumada, já está na hora de fazer a mesma coisa de novo! O ciclo recomeça, e nunca tem fim. E mais, meu filho: se estiver tudo perfeito ninguém fala nada; mas se houver alguma falha todo mundo nota! Serviço ingrato!”
Depois de dizer essas coisas ela fazia um muxoxo e caia na gargalhada.
Nada tirava seu bom humor; nem mesmo a pia cheia de louça pra lavar.
Por isso, nas poucas ocasiões em que estivemos sem auxílio de empregada ela cuidava de tudo muito bem, mas reservava-se o direito de fazer suas reclamações, obviamente.
Outra coisa que se fala costumeiramente das mães é que elas interferem demais na vida dos filhos. A minha nunca fez isso.
Ela sempre me apoiou nas decisões que tomei, sem nunca se meter ou xeretar minha vida pessoal.
“ – Paco, - era essa a sua forma de me tratar – se precisar conversar me fale. Estou aqui.”
Essa frase era sua forma de dizer que seu amor estava ao meu lado, mas só entraria se eu abrisse a porta. Ajudar e influenciar sem impor seus mapas de realidade é um grande talento.

Por isso, nela também não se encaixam quaisquer das malvadas qualidades que se lançam às sogras, nem seria possível vê-la protagonizando alguma das piadas perversas que existem sobre o tema. Minha ex-esposa Marta a trata com carinho de filha até hoje, mesmo depois de dez anos de separação, pois ela sempre foi excelente sogra.
Noto que ela sabia transitar através das posições perceptivas com maestria. Notava quando era importante estar no EU, marcar seu espaço, dizer o que pensava e queria. Se deslocava para a posição de OBSERVADORA nos momentos em que era bom estar de fora, ser imparcial. E era genial na posição do OUTRO. Verdadeiramente sentia-se com o outro, imaginava-se dentro dos sapatos do outro e era capaz de auxiliar com total dedicação.
Assim foi nas inúmeras vezes em que amigos e parentes pediram sua ajuda.
A Mari-sorriso da academia de ginástica se transformava na Mari-auxiliadora ao lado de alguém num leito de hospital. Levava e trazia pessoas para médicos, exames, ou cuidava de forma amorosa daqueles que precisavam de apoio colocando-se a seu dispor.
Duas tias queridas, suas irmãs, saíram deste mundo por causa do câncer de mama. Minha mãe cuidou das duas, esteve presente com seu carinho e sua atenção, ajudando como podia até o fim.
Essa doença visitou nossa família de tempos em tempos.
O tumor no pâncreas do meu pai, extraído numa cirurgia bastante delicada, cerca de quinze anos antes, retornou mais tarde dessa vez, no fígado. E de novo Mari assumiu um papel de enfermeira, além de esposa e amiga, apoiando e cuidando de todas as necessidades dele.
Meus pais foram um casal-modelo de amor para mim em vários aspectos, sobretudo no respeito às diferenças. Minha mãe pensava e agia de forma muito própria e meu pai sempre a compreendeu e respeitou, sendo bem tolerante com sua personalidade efusiva e agitada.
Tímido, reservado, calado, parecia seu oposto perfeito. Apenas parecia, porque de verdade eu via muitas coisas em comum nos dois, especialmente valores e princípios.
Por vezes, a fobia social de meu pai fazia com que dissesse que seu maior sonho era morar numa fazenda no meio do Pantanal do Mato Grosso, cercado de jacarés, pra não precisar ver ninguém além da esposa e dos filhos. Falava em tom de brincadeira, mas sabíamos que era a mais pura verdade.
E ela respondia: “- Mande uns postais de lá pelo correio pra mim, viu? Eu vou ficar por aqui.” Ambos riam muito quando repetiam esse texto, que já havia se tornado uma piada do casal.
Esse, definitivamente, não era o sonho da minha mãe.
Mari sempre dançou, brincou, sorriu, cantou, saiu com amigos, estava em plena atividade, a mil por hora, aprendendo música – experimentou aulas de teclado, violão e acordeom – adorava festas, karaokê, sair, ver pessoas, carnaval, conversar, ajudar pessoas.
E a vida deu voltas. E nos trouxe surpresas...
Aos 60 anos, saindo da sua sessão de ginástica na academia, minha mãe teve um AVC isquêmico enquanto dirigia voltando pra casa. Sim, um acidente vascular cerebral não hemorrágico em pleno trânsito.
Felizmente não se envolveu num acidente mais grave pois seu carro estava em baixa velocidade e colidiu com um outro que estava parado, não havendo maiores conseqüências.
A área lesada foi bastante extensa e as seqüelas são importantes ainda hoje, cinco anos depois.
A interrupção do fluxo sanguíneo no cérebro atingiu a maior parte do hemisfério esquerdo afetando, portanto, os centros da fala e os movimentos de braço e perna direitos.
Aquela Mari que cantava, que gravou um cd, que falava muito, dançava e fazia ginástica ficou diferente a partir de então.
Seu vocabulário foi reduzido para cerca de 12 palavras e há hemiparesia do lado direito: braço e perna não têm tanta força motora nem podem ser comandados pelo cérebro como antes, portanto não se movimentam de maneira normal. Ela usa uma órtese na perna direita e para se deslocar por maiores distâncias precisa de uma cadeira de rodas.
De qualquer forma somos abençoados. Conversando com um de seus neurologistas recentemente soube que, para a extensão da área lesada, vendo as lâminas dos seus exames de imagem, poderíamos dizer que se trataria de um paciente em estado vegetativo, ou demente, sem muita capacidade de interagir com o mundo exterior.
Minha mãe, contudo, surpreende pois está com memória ótima, atenção e compreensão igualmente ótimas, e responde maravilhosamente bem, com gestos ou expressões faciais, ou mesmo com um “não” ou um “tá” – sua forma de dizer “sim” - a todas as questões que lhe são feitas. Sua concentração melhora a cada dia e os exercícios que vem fazendo nas sessões de fonoterapia com a Dra. Célia Regina Thomé envolvendo até contas de matemática simples, são bastante poderosos nesse sentido. Sua habilidade de comunicação também vem sendo auxiliada em exercícios musicais. Dra. Célia propõe que ela entoe alguns mantras e isso ajuda no reforço de sinapses e na construção de novos caminhos neurais para a expressão.

Além de sua fonoterapeuta, Deus nos enviou outros bons anjos sob a forma de profissionais que estão fazendo essa caminhada ser enriquecedora e mais leve. Inicialmente os fisioterapeutas do Hospital SARAH e atualmente os da clínica BIOS, sobretudo Mariana e Marise, vêm fazendo muito mais do que cuidar-lhe do corpo físico. Estão oferecendo ânimo e carinho, suporte emocional indispensável para sua recuperação e para a manutenção das conquistas já alcançadas. Do mesmo modo massoterapia, terapia ocupacional e acupuntura foram de grande valia.
Dentro de casa também contamos com a presença amorosa de auxiliares e técnicas em enfermagem com as quais ela também desenvolve um relacionamento de parceira e amizade. São pessoas espetaculares que cuidam de Mari com grande dedicação. Tanto as atuais, Edna e Luiza, como as que já estiveram com ela anteriormente, Dilma e Francis, são seres humanos cheios de paciência e doçura, e sabem o real sentido das palavras cuidar e servir. Maristela, sua empregada, que sempre está cantando e de bom humor, também contribui para um clima favorável à manutenção de um ambiente energeticamente saudável.
Médicos competentes também fazem parte desse processo como o Dr. Wilde Robert, cardiologista que a acompanha desde o início.
Além de mim e do meu irmão, são muitos os parentes e amigos que lhe dão apoio e carinho através de visitas constantes.
Você já imaginou que um AVC ou alguma outra doença pode representar mudanças bastante significativas para a percepção da realidade que nos cerca, e para a valorização das pessoas que convivem conosco?
Dra. Jill Bolte Taylor, dedicada pesquisadora do cérebro humano, conta em seu livro “A Cientista que Curou o Próprio Cérebro”, o quanto foi importante estar cercada de pessoas especiais, generosas, e que compreenderam o processo pelo qual passava após ter um derrame cerebral. Sua abertura à mudança foi gigantesca após a doença e os oito anos de tratamento, o mesmo acontecendo com aqueles que a acompanharam.
Dra. Jill teve um AVC hemorrágico que criou em sua cabeça um coágulo sanguíneo do tamanho de uma bola de pingue-pongue. Embora não tenha sido um AVC isquêmico como o que ocorreu com Mari, aconteceu no mesmo hemisfério: o esquerdo.

Trata-se do lado responsável pela lógica, pela comunicação verbal, e é, portanto, analítico e simbólico. Quanto aos movimentos, o hemisfério esquerdo comanda o lado direito do corpo.
Então, quando virmos alguém que teve lesões nesse hemisfério por acidentes ou doenças, observaremos que seus movimentos corporais comprometidos serão os dos membros do lado direito. Também terão afasia e/ou apraxia, distúrbios na fala que apresentam incapacidade da formulação simbólica dificultando que as palavras sejam associadas com os sons correspondentes, ou incapacitando a construção dos movimentos fonadores, atos voluntários que permitem a articulação e a emissão da voz.
Assim como a Dra. Jill, minha mãe teve desde o início problemas relativos à linguagem além das dificuldades de movimentação e da compreensão da escrita. As letras de um jornal, revista ou livro passaram a ser símbolos sem qualquer significado.
O lado direito tem, por sua vez, a função de síntese, de percepção do todo, e é o hemisfério da criatividade, da intuição e da fantasia.
Dra. Jill disse que apesar da dor forte que sentiu quando estava experimentando o AVC, com seu lado esquerdo do cérebro imerso internamente numa poça de sangue, havia um senso de mistura com sistemas maiores que ela própria, como se não houvesse fronteiras que definissem onde ela terminava e onde começava algo ou alguém além do seu corpo. Uma sensação prazerosa de misturar-se com o todo começou a invadi-la. O lado direito estava operando sozinho em plenitude trazendo uma espécie de êxtase.
Ela também ficou com seqüelas bastante importantes inicialmente.
Sua mãe e alguns profissionais que a assistiram tiveram grande participação em sua recuperação que, diga-se de passagem, foi perfeita. Diferente do caso da minha mãe, o da Dra. Jill permitia uma intervenção cirúrgica. A operação era bem arriscada, mas poderia devolver muitas de suas capacidades e habilidades anteriores. Felizmente a cirurgia aconteceu e os resultados foram os melhores.
Após o derrame, a operação e oito anos de tratamento Dra. Jill, a pesquisadora de Harvard que se dedicara a estudar o cérebro humano estava muito diferente. Hoje em suas palestras ela enfatiza a importância do hemisfério direito do cérebro na busca de um mundo diferente, e a prevalência de valores humanos nobres como a compaixão. E é muito interessante observar que essas palavras não estão saindo de um guru da new age e sim de uma neurocientista.
Ela recebeu muita ajuda. Entretanto nada seria possível se ela própria não abrisse espaço para o auxílio chegar.
Nenhuma ajuda pode começar sem a auto-ajuda. Esse é um livro que trata de uma linda história de superação e auto-encontro. Eu recomendo a todos.
Bem, muitos se desesperam com uma grave doença que traga limitações, semelhante a essas com as quais Mari e a Dra. Jill aprenderam a lidar.
Eu vi minha mãe saltitando e cantando num determinado dia de verão de 2005. No outro ela estava na UTI respirando através de aparelhos e cheia de fios conectados em seu corpo.
Depois de um mês inteiro no hospital ela retorna para casa numa cadeira de rodas, procurando se situar ainda em relação ao que poderia e ao que não poderia mais fazer.
Não conseguia se equilibrar de pé, não tinha controle dos esfíncteres, não compreendia direito o que lhe era dito, mastigar alimentos ainda era difícil, comunicar-se conosco era uma tarefa complicada porque apenas sabia apontar com o braço esquerdo algum ponto e esperava que compreendêssemos o que ela desejava.
Engana-se quem imagina que ela se abateu com isso ou se tornou um ser amargo e deprimido.
Por ter sempre a mente repleta de otimismo e muita força interior, com o passar do tempo suas vitórias começaram a acontecer.
Vibrávamos com cada uma delas: o momento em que passou a não mais depender de fraldas descartáveis, o instante em que sua alimentação começou a se normalizar, o dia em que se colocou de pé sem precisar de auxílio, o surgimento de uma compreensão gradativamente melhor para o que nós lhe dizíamos, enfim, pequenas conquistas que para nós representavam motivos de festa.
É bom que se diga: nem todo o processo contou com seu sorriso contagiante. Houve alguns momentos de tristeza logo no início, decorrentes da tomada de consciência de que lidaria com limitações importantes a partir dali. Entretanto, logo-logo ela respirou fundo e mostrou sua resiliência, sua capacidade de enfrentar dificuldades saindo mais forte de cada uma delas.
Quando a doença dela caiu de pára-quedas em nossas vidas meu pai estava se submetendo a sessões mensais de quimioterapia. E agora ele era convidado a deixar de pensar na própria doença para cuidar de sua companheira.
A vida propôs um revezamento: minha mãe cuidara do meu pai quando ele adoeceu. E aquela era a vez dele dar força a ela, mesmo estando doente.

E quando, por fim, ele faleceu no ano passado, depois de um mês hospitalizado, a saudade e a tristeza se derramaram sobre nós todos.
Fiquei angustiado também com a idéia de que sua morte pudesse abalar as estruturas dela.
Seria a ausência do companheiro com quem conviveu 43 anos capaz de afetá-la de uma maneira muito séria, ao ponto de fazê-la entrar em depressão? Além das limitações físicas, a ausência do esposo agora poderia tirar dela o brilho, a alegria de viver, e a vontade de se recuperar?
De fato houve tristeza, dor, certa prostração que perdurou por algumas semanas, nas quais Mari não quis ir às sessões de terapia - fisio, hidro e fono – ficou mais tempo na cama silenciosa, comeu menos. Ao seu lado, busquei lhe dar ainda mais carinho do que antes, e me mantive silencioso com ela em muitos momentos, de mãos dadas, enquanto via seu olhar perdido e marejado, por vezes repetindo o nome do meu pai. “- Carlos... Carlos...”.
Entretanto, como lhe disse antes, ela não é deste planeta.
Após o luto natural, deu uma guinada absurda e retomou suas atividades terapêuticas com energia.
Faz quase um ano que meu pai se foi e ela está muito bem. Sorrindo das piadas bobas que faço, saindo para fazer compras no supermercado comigo – adora a cadeira de rodas elétrica que a loja G-Barbosa coloca à disposição dos clientes com necessidades especiais. Continua assistindo a seus programas e novelas preferidas na TV, se empenhando nas sessões com os profissionais que podem ajudá-la a sentir-se melhor e a recuperar suas capacidades, e ensinando a todos lições diárias de coragem, dignidade, contentamento e perseverança.

Acredito que minha mãe tem grande responsabilidade pelo fato de eu poder abraçar meu trabalho como consultor em desenvolvimento humano com tanta energia atualmente. Ela é uma inspiração constante e me mostra na prática o que a Programação Neurolinguística ensina sobre poder pessoal de superação.
Mari é um fenômeno para mim, sendo da forma dela. Ela é exatamente do jeito que eu precisava para ser quem sou. Já reconheci o tesouro que é a minha mãe.
E você já detectou a jóia preciosa que é a sua?
Convido você a perceber o fenômeno que a sua própria mãe é. Quantas virtudes, características peculiares e talentos ela tem e você ainda não percebeu? Com quantos recursos ela já lhe proporcionou contato e quantos estados enriquecidos ela já eliciou em você tornando sua vida mais feliz e produtiva?
Diga-me com sinceridade: quantas foram as vezes em que você agradeceu a Deus pela mãe que Ele lhe ofereceu nesta vida?
Pode ter certeza que as mães não são perfeitas, não se mostram como seres mágicos, míticos, nem são obrigadas a ser anjos. Elas são simplesmente pessoas como eu e você, e aquilo que oferecem é o melhor que têm para dar.
Mas mesmo não sendo pessoas perfeitas, são as fornecedoras perfeitas de tudo o que precisamos para aprender, crescer e mudar, enfim, para deixar com que nossa alma se expresse com plenitude na vida.
Termino esse artigo agora, na quarta-feira, dia 05 de maio de 2010, às 12:19h, e no próximo domingo comemoraremos o Dia das Mães. Sinto-me feliz pois estou indo agora mesmo almoçar com uma mulher muito especial, que parece não ser desse mundo. Ela estará me esperrando em sua poltrona, sorrindo como sempre.

Mudará o canal da TV para que eu não a veja assistindo aos programas com noticias violentas que são exibidos justamente na hora do almoço. Riremos dessa traquinagem dela. Sempre digo: “ao invés de ver esse monte de sangue e todas as misérias do mundo, justo na hora de comer, que tal assistir a alguma coisa mais leve, minha flor?” Ela dirá “tá”. E amanhã à mesma hora estará com o olho grudado na tela que exibe a eterna luta de bandidos e policiais nas favelas, gente morta desovada na mata e brigas entre torcidas organizadas. É sua subpersonalidade com atitude teimosa se mostrando.
Direi “oi” e ela responderá com outro “oi”, para logo em seguida dizer o “boa tarde” musical que lhe ensinei. Sim, como ela já sabia dizer “bom dia” e “boa noite”, mas não havia meios de reaprender a dizer “boa tarde”, eu coloquei na frase algumas notas musicais e a partir de então ela passou a acertar. Curiosamente os centros no cérebro que possibilitam o canto não são exatamente os mesmo centros que administram a fala. É outra subpersonalidade sua com comportamento perseverante procurando alternativas.
Depois vamos comer castanhas de caju e tomar um pouco de vinho doce suave de que ela gosta, embora esse não seja o meu predileto. Conversaremos sobre novelas de TV e ela fará também, com gestos e expressões faciais, eu entender coisas a respeito de como foi sua manhã e me dirá, da sua maneira, algo acerca de compras a fazer, contas a pagar etc. Sempre sorrindo, mostrará os cabelos levando a eles a mão esquerda me dizendo assim que quer tintura para retocá-los pois alguns fios brancos estão aparecendo. É a forma da sua parte vaidosa dizer “eu continuo existindo, e porque seria diferente?”
E por fim, sentaremos à mesa da cozinha e almoçaremos batendo papo do nosso jeito especial, fenomenal e extraterreste.
Comunicação especial, fenomenal e extraterrestre, como é o nosso amor.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esse texto foi escrito originalmente em 2010. Atualmente minha mãe está sendo assistida pelo competente fisioterapeuta Nildo Ribeiro e sua genial equipe. Espaço Vida - Pituba, Salvador - Bahia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário